Paccelli José Maracci Zahler
Com o objetivo de conhecer melhor a estrutura da folha do Café Catuaí (Coffea arabica cv. Catuaí), foi realizado um estudo da anatomia foliar com folhas situadas no terceiro nó, a partir do ápice do ramo, localizadas em diferentes posições na planta.
O material foi fixado em FAA, desidratado e emblocado em parafina, segundo técnicas usuais (JOHANSEN, 1940). Foram feitos cortes transversais e longitudinais no micrótomo rotatório, modelo Spencer, na espessura de 12 a 15 micrômetros. Usou-se a coloração safranina-fastgreen e montagem em resina sintética.
Foram efetuadas observações e contagens do número de estômatos por milímetro quadrado de folha, utilizando-se material fresco, cortes a mão livre e o auxílio de um quadrado desenhado sobre papel branco, de 9,5 cm de lado, o qual, quando colocado sob câmara clara acoplada ao microscópio Zeiss, modelo GFL, com aumento de 128 vezes, o qual permitia visualizar uma área de 0,25 mm2 na epiderme da folha, tendo sido necessárias quatro contagens em cada amostra para se obter o número de estômatos em 1 mm2. A determinação da escala foi feita com a lâmina micrométrica Zeiss e os desenhos realizados sob câmara clara.
De 16 amostras de folhas da estação chuvosa, obteve-se um comprimelnto médio de 131,9 mm (s=15,6 mm), a maior largura média de 59,2 mm (s=10,2 mm) e uma área média de 53,7 cm2 (s= 14,3 cm2).
Os estômatos são do tipo paracítico (Figura 1), com duas células subsidiárias paralelas ao eixo longo da célula-guarda (ESAÚ, 1977), sendo característicos da família das Rubiáceas, razão pela qual o nome anterior era “tipo rubiáceo”. Estão localizados na epiderme inferior (abaxial). Em 36 amostras da epiderme inferior das folhas obteve-se uma densidade média de 197 estômatos por mm2.
Figura 1 – Fragmento de epiderme inferior de uma folha de café Catuaí (Coffea arabica cv. Catuaí), observando-se o tipo e a distribuição dos estômatos (aumento de 320 x).
Um corte transversal (Figura 2) mostra uma camada de células da epiderme seguida do parênquima paliçádico, parênquima esponjoso, este caracterizado por uma superfície interna relativamente grande e, novamente, células da epiderme abaxial com estômatos.
Figura 2 – Corte transversal da lâmina foliar do café Catuaí (Coffea arabica cv. Catuaí). (a) epiderme; (b) parênquima palicádico;(c) feixe de vasos lenhosos; (d) parênquima lacunoso; (e) estômato; e (f) epiderme inferior (aumento 256 x).
Na nervura principal, os elementos do xilema se apresentam cercados pelos elementos do floema, seguidos por células do esclerênquima (Figuras 3 e 4).
Figura 3 – Corte transversal da nervura central de uma folha pequena de café Catuaí (Coffea arabica cv. Catuaí) coletada durante a estação chuvosa. (a) ápice; (b) parte média; (c) base (aumento 504 x).
Figura 4 – Corte transversal da nervura central de uma folha grande de café Catuaí (Coffea arabica cv. Catuaí) coletada durante a estação chuvosa. (a) ápice; (b) parte média; (c) base (aumento 504 x).
Na união da nervura principal com a nervura secundária de 1ª. Ordem, observou-se a presença de cavidades chamadas domácias, que se dispõem de forma alternada, são visíveis a olho nu e, devido à sua profundidade, chegam a formar uma saliência na epiderme da folha.
O estudo anatômico da folha do Café Catuaí não apresentou diferenças estruturais em relação ao que já foi descrito por DEDECCA (1957). Embora BUTLER (1977) tenha sugerido que, possivelmente, tenha havido uma adaptação do cafeeiro às altas temperaturas e OROZCO e JARAMILLO (1987) tenham acreditado que existe algum mecanismo que faz com que a temperatura das folhas do Café Catuaí, quando submetidas a um déficit de umidade do solo, permaneçam com temperatura próxima da temperatura do ar.
Os resultados anatômicos sugerem que, se realmente houve essa adaptação ou se esse mecanismo realmente existe, isso não se deu em nível anatômico.
Chamou a atenção a presença de domácias, pequenas cavidades localizadas entre a nervura principal e a nervura secundária de 1ª. Ordem na página inferior da folha. Essas estruturas foram descritas pela primeira vez no cafeeiro em 1886 por Emile Auguste Goeldi (ADÂMOLI DE BARROS, 1962 a) e em outras famílias da ordem Rubiales (ADÂMOLI DE BARROS, 1962 b). Sua função ainda não é conhecida (DEDECCA, 1957), no entanto tem sido utilizada na sistemática de muitas espécies de Rubiaceae (CHEVALIER e CHESNAIS, 1941, citado por ADÂMOLI DE BARROS, 1959). Sabe-se que abriga ácaros, chamados “ácaros das domácias” (Tydeus spp., Lorrya sp.), que se alimentam dos fungos que se desenvolvem sobre a página inferior das folhas e não causam nenhum dano às plantas (FLECHTMANN, 1977).
BIBLIOGRAFIA
ADÂMOLI DE BARROS, M.A. Ocorrência de domácias na família Rubiaceae. Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 16:311-337, 1959.
ADÂMOLI DE BARROS, M.A. Ocorrência de domácias nas rubiáceas. Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 19:1-21, 1962 a.
ADÂMOLI DE BARROS, M.A. Contribuição ao estudo das domácias na ordem Rubiales. Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 19:135-149, 1962 b.
BUTLER, D.R. Coffe leaf temperatures in a tropical environment. Acta Botanica Neerlandica, 26(2): 129-140, 1977.
CHEVALIER, A. e CHESNAIS, F. Sur les domaties des feuilles de Juglandaceae. C.R. Academie des Sciences, 213:389-392, 1941.
DEDECCA, D.M. Anatomia e desenvolvimento ontogenético de Coffea arabica L. var. Cramer. Bragantia, 16(23):315-366, 1957.
ESAU, K. Anatomy of seed plants. New York: John Wiley and Sons. 1977.
FLECHTMANN, C.H.W. Ácaros de importância agrícola. São Paulo:Nobel, 1977.
JOHANSEN, D.A. Plant microtechnique. New York:McGraw-Hill, 1940.
OROZCO-CASTAÑO, F.J. e JARAMILLO-ROBLEDO, A. Efecto del deficit de humedad en el suelo sobre la temperatura del suelo y de hojas en plantas de Coffea canephora y Coffea arabica. Cenicafé, 29(4):121-134. 1978.
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