segunda-feira, janeiro 01, 2007

Os Indicadores de Qualidade de Vida


Paccelli José Maracci Zahler é engenheiro agrônomo e ecólogo.

Página pessoal: www.geocities.com/paccelli


Os Indicadores de Qualidade de Vida

Por Paccelli José Maracci Zahler

Os indicadores são instrumentos de medida que podem ser aceitos e compreendidos por todos e entendidos como critérios aceitos para avaliar mudanças (SENAC, 2006).
Na opinião de HERCULANO (1998), são informações usadas, simplificadas e quantificadas que facilitam a comunicação, comparações e o processo de decisão.
De acordo com PFEIFFER (2000), um indicador é uma situação ou característica que serve como sinal comprobatório de outro fato.
O estabelecimento de indicadores, particularmente nas ciências ambientais e sociais é complexo, pois é necessário tornar tangível o intangível. Eles devem ser especificados de tal forma que sua mensuração seja independente de opiniões pessoais, mas baseadas em fatos e evidências. Tal complexidade foi discutido por HERCULANO (1998).
Os indicadores têm por função caracterizar mais detalhadamente os objetivos e resultados, estabelecendo o que e quanto se pretende alcançar, e fornecer uma base para o acompanhamento e a avaliação do planejado (PFEIFFER, 2000).
No caso dos indicadores de qualidade de vida, é necessário quantificar o acesso a um meio ambiente saudável, ao emprego, à educação, ao saneamento básico, à saúde, à moradia, ao lazer, à segurança. Sua avaliação vai depender do que se considera um nível adequado de “qualidade de vida”.
A “qualidade de vida”, particularmente no século XX, foi confundida com “padrão de vida” (SENAC, 2006). Este conceito refletiu-se nos indicadores utilizados atualmente como o Produto Interno Bruto (PIB), que avalia o desenvolvimento dos países pela quantidade de riqueza gerada, não levando em conta a concentração dessa riqueza nas classes mais altas e não garantindo o bem-estar da população, embora o objetivo do desenvolvimento seja garantir uma vida digna e satisfatória a todos os cidadãos.
De modo semelhante comporta-se o Produto Nacional Bruto (PNB), que não faz distinção entre atividades econômicas diferentes.
Em 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propôs o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual engloba a expectativa de vida, a taxa de alfabetização, os anos de escolaridade e o PIB per capita. Sua escala varia de 0 a 1 e considera os países ou Estados com IDH menor que 0,5 como de “baixo desenvolvimento humano”, entretanto, não considera os indicadores de sustentabilidade ambiental (SENAC, 2006).
Após a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, o Centro de Estudos para a Sustentabilidade do México e o Conselho da Terra, elaboraram o índice denominado “Pegada Ecológica”, com o objetivo de calcular e medir o impacto ambiental total realizado por uma nação. Este índice incluiria o quanto de natureza uma nação usa e o quanto de área biologicamente produtiva é explorado por ela, permitindo descobrir o quanto, em média, cada cidadão de determinado país utiliza dos recursos naturais disponíveis. A medida é feita em hectares, mas não representa um pedaço de terra, pois devido ao comércio internacional, todos os cidadãos usufruem dos recursos naturais de outras nações. Ela permite comparar a situação ecológica ano a ano, tal qual os indicadores econômicos, em qualquer escala (globo, país, cidade, campo, empresa), permitindo saber se determinado local está longe ou perto da sustentabilidade.
Um outro índice para medir o uso e o impacto do homem sobre a natureza seria o PIB Verde (ou PIB Real), que expressaria monetariamente os custos e benefícios das atividades econômicas para o meio ambiente. Ele é defendido por economistas do mundo todo, pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Banco Mundial e pelo Fundo Mundial pela Natureza (WWF), como uma forma de incluir o meio ambiente na economia, uma vez que isso não é levado em conta pelo PIB mundial.
HERCULANO (1998) propõe que seja adotado o Índice de Qualidade de Vida (IQV). Para ela, a “qualidade de vida” deveria ser definida como “a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar as suas potencialidades”. Isto implicaria medir os níveis de conhecimento e tecnologia já desenvolvidos e os mecanismos para o seu fomento; os canais institucionais para participação e geração de decisões coletivas e para a resolução de controvérsias; mecanismos de financiamento da produção; mecanismos de acessibilidade ao consumo (renda, alimentação, água, luz, saneamento); canais democratizados de comunicação e de informação; proporção de áreas verdes para a população urbana; proporção de áreas de biodiversidade protegida; organismos governamentais e não-governamentais para a implementação da qualidade de vida.
Embora tenha indicado o que deve ser feito, HERCULANO (1998) não indigitou como isso deve ser feito.
Diante do exposto, verifica-se que as propostas para quantificar e analisar a “qualidade de vida” são muitas, porém carecem de consenso. Isso evidencia a necessidade de estudos interdisciplinares mais aprofundados para se saber quem está sendo beneficiado e o quanto está sendo beneficiado pela exploração sustentável do meio ambiente, proporcionando “qualidade de vida” para os seres humanos.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

HERCULANO, Selene C. Qualidade de vida e seus indicadores. Revista Ambiente e Sociedade, ano 1, nº 2, Campinas:Nepam, 1998.
PEGADA ecológica: quanto de natureza usamos? Revista Senac & Educação Ambiental, Rio de Janeiro,ano 8, nº 1, 1999. p. 12-16.
PFEIFFER, Peter. O quadro lógico: um método para planejar e gerenciar mudanças. Revista do Serviço Público, Brasília, ano 51, nº 1, p.81-122.
SENAC. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania. Bloco temático III. E-book do Curso de Educação Ambiental, Brasília, Distrito Federal, 2006.

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