segunda-feira, janeiro 01, 2007

Panorama da Educação Ambiental



Paccelli José Maracci Zahler é engenheiro agrônomo e ecólogo.

Página pessoal: www.geocities.com/paccelli


Panorama da Educação Ambiental

Por Paccelli José Maracci Zahler

“Escolher a concepção de educação que deve orientar a prática educativa é, sobretudo, uma decisão política. No que tange à Educação Ambiental, esta decisão torna-se mais urgente, uma vez que a generalização do discurso ecológico e as muitas concepções de meio ambiente que circulam atualmente promovem uma espécie de Torre de Babel, onde nem todos estão falando a mesma coisa” (Carvalho, 1992).

O tema em questão pede que se relembre o tipo de educação recebida no processo de escolarização.
A afirmação de Carvalho (1992) pode ser entendida em um retrospecto histórico.
Considerando que o meu processo de escolarização está completando 42 anos (foi iniciado em 1964), creio que posso traçar um quadro sucinto da introdução da Educação Ambiental no currículo escolar vivenciado por mim.
No final da década de 1960, dados os problemas políticos enfrentados pelo Brasil com a tomada do poder pelos militares, não se ouvia falar em Ecologia.
As aspirações básicas no período 1964-1970 eram o desenvolvimentismo, o milagre econômico, a construção de hidrelétricas, a construção de estradas, em especial a Transamazônica, o militarismo, o nacionalismo, o combate à subversão e o tricampeonato mundial de futebol. Nesse período, foi dado ênfase à campanha “Brasil: ame-o ou deixe-o”, como forma de dizer aos que não estavam contentes com o regime militar que eles deveriam sair do país.
De 1970 a 1976, as aulas de Biologia não abordavam Ecologia, entretanto, algumas noções básicas foram objeto de poucas aulas, em 1976, porque algumas questões passaram a ser tema de vestibular.
Quando se começou a questionar a poluição, a resposta que se ouvia é que era o preço do progresso, pois o país precisava crescer, desenvolver-se.
No litoral do Rio Grande do Sul, houve o problema da maré vermelha, destacando-se José Lutzenberger, que viria a ser Secretário Especial do Meio Ambiente no governo Collor (1990-1992); e um episódio em Porto Alegre onde um estudante (salvo engano, de economia) trepou em uma paineira centenária para evitar a sua derrubada por ocasião da ampliação de uma avenida. Provavelmente, tenha sido o primeiro protesto ecológico do Estado.
De 1977 a 1981, a Ecologia foi tema de uma disciplina (Ecologia Agrícola) na Faculdade de Engenharia Agronômica.
Já havia um crescente debate sobre o meio ambiente, a desertificação, a poluição, o uso indiscriminado de agrotóxicos,o surgimento de câncer em agricultores, a divulgação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, a preocupação com a fabricação de agrotóxicos.
De 1982 a 1985, no mestrado em Ecologia na Universidade de Brasília, não havia a disciplina de Educação Ambiental. Falava-se no assunto, mas não se sabia como ela deveria ser operacionalizada.
A questão ambiental já fazia parte do cotidiano, dos jornais, doa noticiários de rádio e televisão, pois não havia computador pessoal, nem internet.
Havia uma preocupação com a energia nuclear, com a guerra nuclear, com a possibilidade de falhas nas usinas nucleares, retratadas no filme “Síndrome da China”, já se ouvia falar no Greenpeace.
De 1986 a 2006, o tema meio ambiente tomou conta das conversas diárias, principalmente após a Eco-92, seguido de um grande avanço tecnológico.
No referido período, ocorreu um fenômeno interessante: as empresas se apropriaram do discurso ecológico e passaram a vincular seus lucros à “proteção ambiental”.
Foi a época da aprovação da legislação ambiental brasileira, da regulamentação do EIA/RIMA, do acidente de Chernobyl, na Ucrânia (1986), dos relatos de extinção de espécies, do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, da introdução de sementes transgênicas, da expansão do agronegócio, da proibição do tabagismo em locais públicos, da popularização dos computadores pessoais e da internet, da introdução da Educação Ambiental no ensino fundamental.
Ainda este ano (2006), conversando com uma moça em uma drogaria do Setor Clínico Sul, ela me revelou que a Educação Ambiental em sua escola era o castigo para quem não se comportasse em aula porque tinha que capinar, semear e ficar sob sol forte.
Para mim, tanto os professores quanto a escola apenas cumpriam sem compromisso, a grade curricular.
Fui obrigado a dar razão a Arthur Schopenhauer (1788-1860), pensador alemão, que afirmou:
“Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la”.
Particularmente, considero preocupante a apropriação do discurso ecológico por parte de capitalistas e formadores de opinião, sem conhecimento de causa, porque eles têm condição de conduzir seus ouvintes e leitores para que atendam aos seus interesses, muitas vezes mesquinhos, outras vezes escusos.
Vê-se que o tema foi sendo introduzido aos poucos, contudo sem a eficácia esperada porque o discurso ecológico foi sendo dissimulado por políticos, empresários, pesquisadores, professores.
Concordo com a afirmação de Carvalho (1992) para a necessidade de uma decisão política para a implantação da Educação Ambiental para unificar o discurso ecológico, evitando, assim, o que ele chama Torre de Babel.
Chamo a atenção para o período em que Carvalho fez a afirmação: 1992. Já estamos em 2006 e o problema ainda não foi solucionado.
As pessoas têm consciência da crise ambiental da atualidade, mas como resistir ou abrir mão do conforto de uma tecnologia que provoca impactos ambientais?

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