segunda-feira, janeiro 01, 2007

Resenha Crítica (Grupo Amazônia)

RESENHA CRÍTICA

(Elaborada pelo Grupo Amazônia, formado pelos alunos Jair Maron M. de Freitas, Luciano Brandão Gallo, Nilton de Castro Lopes, Paccelli José M. Zahler, Samara Oliveira Silva, Valéria da Cruz V. Labrea)

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Ecologia, liberdade e igualdade: autonomia. In: GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo:Contexto, 1996. pp. 136-144.

O texto complementar é um capítulo do livro OS (DES)CAMINHOS DO MEIO AMBIENTE do mesmo autor.

O livro aborda o movimento ecológico com enfoque histórico-cultural, procurando fundamentar o movimento de caráter político-cultural, demonstrando que cada povo constrói seu próprio conceito de natureza ao mesmo tempo que institui suas relações sociais.

Seguindo essa linha de pensamento, o capítulo em questão traça um panorama sobre o momento crítico da atualidade, a que denomina “ideologia da crise”, impregnada de contradições e conflitos.

Citando Sérgio Paulo Rouanet e Cornelius Castoriadis para persuadir o leitor, questiona o papel da ciência e da técnica, as quais, sob o manto da racionalidade e intimamente relacionadas com o Poder, não têm oferecido soluções para as questões ambientais. Pelo contrário, têm sido instrumentos para justificar a dominação imposta por interesses específicos de um grupo, segmento ou classe social.

Propõe uma revisão do conceito de razão, uma vez que o conceito atual está associado à dominação, particularmente do Estado, ao mesmo tempo em que questiona o verdadeiro lugar da ecologia no campo do saber científico.

Chama a atenção para o fato de as ciências da natureza e do homem não se comunicarem, dificultando e impossibilitando o tratamento da questão ambiental, havendo necessidade de uma transdisciplinaridade, suplantando a idéia de razão reduzida à razão técnico-científica.
Sob esse ponto de vista CAPRA (1996) afirma que a ciência cartesiana acreditava que, em qualquer sistema complexo, o comportamento do todo podia ser analisado pelas propriedades de suas partes. Em contraposição, a ciência sistêmica mostra que os sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio da análise, ou seja, as propriedades das partes não são propriedades intrínsecas e só podem ser entendidas dentro do conceito do todo. Assim, o pensamento ou concepção sistêmica procura explicar as coisas considerando o seu meio ambiente e, nas palavras daquele autor, “todo pensamento sistêmico é pensamento ambientalista”.

Segundo VON BERTALANFFY (1977), a análise dos sistemas trata a organização como um sistema de variáveis mutuamente dependentes. Assim, pode-se chegar ao conceito de “sistemas vivos”, que incluem organismos individuais e suas partes, sistemas sociais (famílias e comunidades) e ecossistemas (SENAC, 2006).

Por ser uma ciência integradora, a Ecologia oferece subsídios para que a sociedade possa compreender as questões ambientais. Dessa maneira, ela passou a abordar a relação homem-natureza como algo uno, rompendo o paradigma do homem separado da natureza.
Essa visão do todo e de suas interações é chamada de “visão holística”.

O autor do texto, Carlos Walter Porto Gonçalves, incita a sociedade a romper o paradigma de que a solução dos seus problemas dar-se-á pela aplicação de determinada técnica e propõe que ela se aproprie politicamente da ciência e da técnica, pois as manifestações contrárias à degradação das condições de vida sempre partiram de fora das universidades e centros de pesquisa. Isso demandará uma mudança de atitude de técnicos, cientistas e filósofos, o que já vem sendo feito pelo reconhecimento da necessidade de uma visão holística da relação homem-natureza, apesar de alguns ecologistas tentarem transformar a questão ambiental em um problema técnico (tecnocracia ambientalista), esquecendo que a técnica é apenas um meio para se atingir determinado fim. Essa opinião é compartilhada por BOFF (1993) e segue o pensamento dos filósofos pré-socráticos.

Verifica-se que, para se chegar à “visão holística” é necessário uma compreensão “sistêmica” e esta, por sua vez, vai necessitar de conhecimentos de diversas áreas do saber humano, seja pela “multidisciplinaridade” ou pela “interdisciplinaridade”.

No estudo multidisciplinar, várias áreas do conhecimento humano discorrem sobre determinado tema de forma independente, sem troca de idéias.

No estudo interdisciplinar, cada área do conhecimento vai discutir uma determinada questão, em conjunto, para solucioná-la ou para contribuir para um melhor entendimento.
O estudo interdisciplinar parece ser a abordagem mais apropriada para a ciência da Ecologia, por permitir uma melhor compreensão dos sistemas (concepção sistêmica) pela identificação e interpretação dos seus elementos, possibilitando uma “visão holística” e, conseqüentemente, a proposição de soluções para os problemas ambientais da atualidade.

GONÇALVES (1996) vai além, propondo uma transdisciplinaridade.

Finalmente, sugere que é no plano da política que a sociedade irá constituir condições iguais para que as individualidades floresçam porque o importante é que todos tenham condições iguais para afirmar suas diferenças.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BOFF, Leonardo. Ecologia: um novo paradigma. In: Ecologia, mundialização e espiritualização. São Paulo: Editora Ática, 1993.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 1996.
GONÇALVES, Carlos Alberto Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1996.
SENAC. Princípios de ecologia e conservação da natureza. Bloco temático II. E-book do Curso de Educação Ambiental, Brasília, Distrito Federal, 2006.
VON BERTALANFFY, Ludwig. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1977.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante.