segunda-feira, dezembro 18, 2006

Educar para a sustentabilidade


Valéria Viana Labrea é educadora.





Aluna: Valéria Viana Labrea
Bloco Temático 4 – Educar para a sustentabilidade
Tema 2 – Conhecendo a emergência da EA
Atividade 3- “Fundamentalmente, a solução dos problemas ambientais está na Educação”. – Partindo desta afirmação, construa o cenário brasileiro atual no qual está contemplada a Educação Ambiental.
Tutora: Marilia Teresinha de Souza Machado
Coordenador do Curso: Samuel Brauer Nascimento
Brasília, 18 de dezembro de 2006.

Observarmos hoje nos diferentes setores sociais uma forte tendência em reconhecer o processo educativo como uma possibilidade de provocar mudanças e alterar o atual quadro de degradação do ambiente com o qual nos deparamos. É muito difícil encontrarmos afirmações que neguem a importância de trabalhos educativos, principalmente os que se preocupam em incorporar em suas propostas o conhecimento dos dinâmicos processos da natureza, as alterações que o homem vem provocando nos mesmos e as conseqüências dessas alterações para a vida na Terra. Muitas vezes a contribuição do processo educativo para as mudanças almejadas é tão supervalorizada que leva, facilmente, à idealização ou à mistificação. Apesar desse risco, entende-se que o desenvolvimento de atividades desta natureza é hoje uma exigência no sentido de que o processo educativo cumpra sua função social.

Particularmente a partir de 1960, acompanhando o movimento mundial acerca da questão ambiental, o processo educativo passa a ser visto não apenas como instrumento de aquisição de conhecimentos, preservação ou conservação, mas começam a ser ampliados os objetivos para a educação e sua relação com as questões ambientais. A partir daí, o termo "educação ambiental" tem sido usado e parece ter substituído os chamados “estudos naturais”, “educação para conservação” ou “trabalhos de campo”. Acumulamos, hoje, experiências em relação a propostas desta natureza de aproximadamente 30 anos.

No caso do Brasil podemos observar, a partir de meados da década de 70, que uma série de propostas educativas (tanto no interior da rede formal de ensino como fora dela, junto a diferentes instituições da sociedade civil), têm incorporado atividades relacionadas com a temática ambiental.

Em relação aos diferentes aspectos da natureza, é importante não priorizar uma abordagem descritiva da mesma, apresentando os seus diferentes componentes de forma isolada, sem considerar as complexas interações entre esses diferentes elementos e os constantes e dinâmicos processos de transformação dessa mesma natureza. A ênfase nos processos descritivos e nos sistemas de classificação dos elementos naturais contribui para reforçar particularidades que muitas vezes prejudicam a compreensão da natureza de uma forma mais integrada. Nesse sentido, parece-nos mais adequado o tratamento dos componentes naturais a partir de uma abordagem ecológico-evolutiva. A abordagem ecológica traz como conseqüência a dimensão espacial, incluindo os aspectos físicos, químicos, geológicos e biológicos do meio, e enfatiza a interação entre os diferentes componentes, fenômenos e processos do mesmo. A abordagem evolutiva, por sua vez, possibilita a compreensão mais profunda da dinâmica natural, não só do ponto de vista de seu funcionamento, mas principalmente das razões e dos porquês dos complexos processos interativos presentes no meio natural.

No entanto, tem-se insistido, veementemente, que as questões a serem tratadas numa proposta dessa natureza não devem restringir-se à dimensão dos aspectos naturais do meio. Nesse sentido, uma das questões mais complexas levantadas pelo movimento ambientalista é a que diz respeito à relação do homem, organizado em sociedade, com a natureza. A perspectiva fatalista, o reducionismo biológico e a análise a-histórica desta questão são riscos que devem ser evitados a todo custo se é que se pretende uma visão mais crítica e ampla desta realidade. Também não se trata apenas e somente de apresentar os diferentes conhecimentos científicos sobre o mundo da natureza e o mundo da cultura historicamente acumulados. Será também necessário trabalhar o próprio processo de produção do conhecimento científico. Aspectos relacionados com as características do conhecimento científico e com as influências de fatores de ordem econômica política e social não podem deixar de ser considerados. Em última análise trata-se de considerar o trabalho científico como uma atividade tipicamente humana. Inclui-se aqui a relação entre ciência e tecnologia e os impactos experimentados pela sociedade moderna em relação ao desenvolvimento tecnológico e aos padrões de utilização desta tecnologia.


Quanto às questões éticas e morais é interessante frisar a necessidade de um sistema ético que controle a relação do homem com a terra. Esta consciência está sendo desenvolvida e, hoje, são vários os autores que reconhecem a necessidade de incorporarmos essa dimensão ética não só no sentido de compreendermos as nuanças das questões colocadas pelos ambientalistas como também no sentido de construirmos novos padrões de relação com o meio natural.

Outra questão que tem sido valorizada pelo movimento ambientalista e pelos educadores interessados no tratamento de questões desta natureza está relacionada com o desenvolvimento da capacidade de participação política dos indivíduos, no sentido de construção da cidadania e de uma sociedade democrática. Neste sentido, são vários os autores que consideram o envolvimento e a participação coletiva dos indivíduos na busca de soluções para os diversos problemas ambientais com os quais deparamos, como um dos objetivos fundamentais para os trabalhos educativos relacionados com esta questão. Este nível de envolvimento é visto, assim, como uma grande oportunidade para o desenvolvimento de habilidades relativas à participação política e ao processo de construção da cidadania. Uma das conseqüências práticas desta concepção é a busca de procedimentos didáticos que contribuam para o desenvolvimento de um espírito cooperativo e solidário.

As respostas definitivas às questões contemporâneas requerem análise do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, e envolvem aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos,científicos, culturais e éticos. Com esse entendimento, a educação ambiental, integrada às demais políticas públicas setoriais, assume destacada posição para o diálogo, a parceria e a aliança, e pauta-se pela vertente crítica e emancipatória da educação, estimulando a autonomia do educando, de modo a desenvolver não apenas a ética ecológica no âmbito individual, mas também o exercício da cidadania.

Esse modo de fazer da educação ambiental requer dos educadores um aprofundamento teórico e um aprendizado de modos de interagir com os educandos que são necessários para traduzir o sentido crítico e emancipatório da educação ambiental em suas práticas pedagógicas.


Bibliografia
CAPRA, Fritjof. Alfabetização ecológica: desafios para a educação no século 21. in: TRIGUEIRO, André (org.). Meio Ambiente no Século 21. RJ: Sextante, 2003.
TRATADO de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Disponível em www.rebea.org.br. Acesso em 05/12/2006.

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